sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Convento de Santa Ana do Carmo de Colares (cont.)

O Primeiro cenóbio – Casal da Torre

O primeiro convento foi fundado em 1436 por Mestre Henriques, físico do rei D. Duarte. Não tendo herdeiros e sendo um devoto da ordem carmelita, pediu ao rei licença para instituir um convento num casal que possuía no termo de Sintra, o Casal da Torre, conhecido nessa altura por Casal de Miguel Johanes, tendo, deste modo, a designação Janas, localidade onde se situa actualmente o dito Casal, muito provavelmente derivado do apelido Johanes.
Antes da licença régia, concedida por carta passada em Lisboa a 14 de Novembro de 1436, o físico havia já fundado uma pequena capela a que chamava Oratório. Necessitando das rendas do casal para manter o seu estatuto social de físico do rei e não podendo, pelas funções, ausentar-se da corte de maneira a acompanhar as obras do futuro cenóbio, Mestre Henriques explicitou no seu testamento que a nova casa religiosa só começaria a ser construída após a sua morte. Com estas disposições concordou o então provincial da ordem, Frei João Manuel, bispo de Ceuta, que aceitou também ser o seu testamenteiro.
Após a morte de Mestre Henriques em 1449, Gonçalo Pires Boto, procurador do provincial, tomou parte do casal, numa altura em que os carmelitas já eram detentores da autorização da rainha D. Isabel, mulher de D. Afonso V, e uma vez que Sintra e o seu termo pertenciam à Casa das Rainhas de Portugal. Em 1450, a herdade, os seus bens e as suas rendas entraram na posse do convento do Carmo de Lisboa, tendo Frei Constantino Pereira, sobrinho do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, sido escolhido para fundar o novo convento. Todavia, o lugar do Casal da Torre em breve se mostrou inóspito, como nos refere José Pereira de Stª. Ana na sua “Chronica dos Carmelitas da antiga, e regular observancia nestes reynos de Portugal, Algarves e seus dominios...”, de 1755, como sendo um local totalmente desabrigado pois neles reinavam com irreparável fúria os ventos tão nocivos à saúde.

A construção do convento, ao tempo reduzida à capela a que Mestre Henriques chamara Oratório – e que milagrosamente ainda hoje resiste à irreparável fúria dos ventos –, foi interrompida e, por doação de um terreno num lugar chamado Boca da Mata, pertença de Sebastião Vaz e de sua mulher Inês Esteves, em 1457,os religiosos carmelitas transferiram-se para o sítio onde hoje se encontra o cenóbio.
José Alfredo da Costa Azevedo descreve assim o primitivo convento do Casal da Torre aquando da sua visita, na década de 1980: “Fui ao Casal da Torre, ultimamente, umas duas ou três vezes e tive ocasião de verificar que ainda existem algumas casas já sem telhado; e na parede de uma delas ainda se pode ver, reduzida às cantarias, uma longa porta ogival, a qual se apresenta vedada por uma cancela feita de canas; no interior vivem galinhas. O casal parece estar habitado – e a presença das galinhas assim o atesta –, mas a verdade é que, em qualquer das vezes que ali fui, não tive a confirmação do facto”.

Actualmente o Casal da Torre encontra-se de facto habitado, e muito embora a pequena capela já não sirva de galinheiro, o seu estado de conservação merece alguma atenção.

Texto e Fotos: André Manique

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1 Comments:

At 15:41, Anonymous Anónimo said...

Olá!
Muito me agrada ver fotos da minha casa no vosso blogue.
Apenas gostava de deixar a nota de que enquanto proprietária tudo temos feito para conseguir financiamentos para reconstruir um dos poucos monumentos góticos de Sintra. Mas lamentavelmente nda conseguimos.
É com tristeza que todos os anos vejo a capela a degradar-se um pouco mais.
Mas mantenho a esperança de um dia a conseguir reconstruir. Custe o que custar...

Patrícia Bicho

 

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