sexta-feira, 24 de agosto de 2007

"Retalhos da Vida de Um Médico"

O mundo está cheio de grandes canções… mas há aquelas que nos marcam indelevelmente.

Recordo-me bem de ouvir esta canção na televisão… tinha eu cerca de 5 anos. Na altura não compreendia as palavras, não tinha lido a obra… hoje é diferente. É uma das vantagens que a idade nos oferece!

“Retalhos da Vida de Um Médico” é uma obra notável da literatura nacional, autobiográfica, um retrato da vida em meados do século XX no Portugal profundo. Fernando Namora, escritor, médico, lavrou-a tendo em conta a sua própria vivência e experiência…

Não menos notável é o poema de José Carlos Ary dos Santos, magistralmente musicado por Tozé Brito e interpretado pela voz maior de Carlos do Carmo, que serviu de tema genérico à série da RTP com o mesmo nome.

Quando leio estes versos, imagino Fernando Namora a percorrer as “serras, veredas, atalhos, fragas e estradas de vento” de Monsanto e da Beira Baixa…

Serras, veredas, atalhos,
Fragas e estradas de vento,
Onde se encontram retalhos
De vidas em sofrimento

Retalhos fundos nos rostos,
Mãos duras e retalhadas
Pelo suor do desgosto,
Que talha as caras fechadas

O caminho que seguiste,
Entre gente pobre e rude,
Muitas vezes tu abriste
Uma rosa de saúde

Cada história é um retalho
Cortado no coração
De um homem que no trabalho
Reparte a vida e o pão

As vidas que defendeste,
E o pão que repartiste,
São água que tu bebeste
Dos olhos de um povo triste

E depois de tanto mundo,
Retalhado de verdade,
Também tu chegaste ao fundo
Da doença da cidade

Da que não vem na sebenta,
Daquela que não se ensina,
Da pobreza que afugenta
Os barões da medicina

Tu sabes quanto fizeste,
A miséria não se cura,
Nem mesmo quando lhe deste
A receita da ternura

Cada história é um retalho
Cortado no coração
De um homem que no trabalho
Reparte a vida e o pão

As vidas que defendeste,
E o pão que repartiste,
São a esperança que aprendeste
Nos olhos de um povo triste

(José Carlos Ary dos Santos)


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1 Comments:

At 21:46, Blogger Vicktor Reis said...

Amiga Lua
Excelente introdução à partilha de um magnífico poema que sempre dá prazer ler.
Beijinho.

 

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