quarta-feira, 13 de junho de 2007

Convento de Santa Ana do Carmo de Colares (cont.)

Enquadramento Geográfico

(Foto: André Manique)

O Convento de Santa Ana do Carmo situa-se em plena serra de Sintra, entre os lugares de Gigarós e Boca da Mata, freguesia de Colares. Seguindo a estrada que liga Monserrate a Colares, pela serra, e ao chegar à povoação da Eugaria, surge-nos uma estrada de calçada à esquerda com a indicação Gigarós. Tomando-a, cerca de mil metros daqui avistamos o portão principal da quinta onde foi edificado o antigo Convento de Santa Ana do Carmo da Ordem dos Carmelitas Calçados, actualmente propriedade privada.

(Foto: Convento de Colares, André Manique)


Enquadramento Histórico

Os Carmelitas chegaram a Portugal como capelães dos militares de São João de Jerusalém, vindos da Terra Santa, onde defendiam os lugares santos.
Foi-lhes doado o convento construído pelos referidos militares em 1251, em Moura. Este convento contava, em 1421, com quarenta e dois religiosos. É a partir daqui que os Carmelitas vão irradiar para todo o Portugal e ainda para o Brasil.

(Foto: Convento de Moura, Portal de Moura)

Em 1389, D. Nuno Álvares Pereira manda construir o Convento do Carmo, em Lisboa. Para este convento vieram religiosos do Convento de Moura, solicitados e indicados pelo próprio D. Nuno. Em 1423, realiza-se o primeiro Capítulo Provincial em terras de Portugal. Elaboram-se os primeiros Estatutos, que foram aprovados por D. João I, em 1424.

(Foto: Convento do Carmo em Lisboa)

O Convento de Santa Ana de Colares será o terceiro convento da ordem carmelita fundado em Portugal, porém, o segundo convento fundado em Sintra, depois da tentativa falhada de construção de um primeiro cenóbio nos arredores da vila. Será desse primeiro cenónio que falarei a seguir.

Texto: André Manique


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terça-feira, 12 de junho de 2007

Efemérides de hoje...

A 12 Junho de 1869, dois dias depois do casamento de D. Fernando II e da Condessa d’Edla, o Diário de Notícias transcreveu um telegrama recebido de Sintra: “Chegou el-rei D. Fernando, em carruagem, e a senhora Condessa d’Edla, que, dizem, é já sua esposa. A filarmónica de São Pedro saudou a sua passagem com alegres músicas. El-Rei é um manancial de benefícios para os artistas e pobres destes sítios” (In “Condessa d’Edla - A Cantora de Ópera quasi Rainha de Portugal e de Espanha”, Teresa Rebelo, Aletheia Editores, p.159).

Também a 12 de Junho, desta feita em 1891, foi realizada uma Assembleia Geral Extraordinária da Associação dos Bombeiros de Colares, onde foi resolvido criar uma Banda de Música, formada pelos sócios da Instituição, para acompanhar o Corpo de Bombeiros nas suas formaturas. No entanto, a data oficial da fundação da Banda dos Bombeiros Voluntários de Colares ficou expressamente consagrada como sendo a de 1 de Novembro de 1891.

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domingo, 10 de junho de 2007

Ó Pátria Lusa, ó Minha Musa...

Lusitana

Doce e salgada
Ó minha amada
Ó minha ideia…

Faz-me grego e romano
Tu gingas à africano,
como a sereia.
Ó bailarina,
Ó columbina,
És a nossa predilecta,
de prosadores e poetas.
Dos visionários,
quem te vê ama de vez,
nómadas e sedentários.

Ó Pátria Lusa,
ó Minha Musa,
o Teu Génio é Português!

Doce e salgada
Ó minha amada
das epopeias…

Tu és toda em latim
e a mais mulata sim,
das europeias.
Ó bailarina,
ó columbina,
do profano matrimónio,
“nas andanças do demónio”.
Bela e roliça,
dança a chula requebrada,
a minha canção é mestiça.

Ó Pátria Lusa,
ó Minha Musa,
o Teu Génio é Português!


Doce e salgada
Ó minha amada
da companhia…

Es um caso bicudo,
tu és o-mais-que-tudo,
da confraria.
Ó bailarina,
ó columbina,
tu és a nossa doidice,
meiga "amante de meiguices".
Eu te proclamo,
quem te vê ama de vez,
e a verdade é que eu te amo.

Ó Pátria Lusa,
ó Minha Musa,
o Teu Génio é Português!


(Fausto Bordalo Dias)

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quarta-feira, 6 de junho de 2007

Museu Ferreira de Castro

(Foto: Entrada do Museu Ferreira de Castro, Rede Portuguesa de Museus)

No dia 6 de Junho de 1982, o Museu Ferreira de Castro, em Sintra, abriu as portas ao público. Este museu está situado no coração da Vila Velha, no Casal de Santo António.

(Foto: Interior do Museu Ferreira de Castro, CMS)

O Museu Ferreira de Castro apresenta o percurso de vida do escritor, através de colecções bibliográficas, documentais e iconográficas, expondo-se ainda traduções das suas obras em diversas línguas. O expólio que o escritor deixou ao povo de Sintra, está exposto neste Museu.

Informações úteis:
Rua Consiglieri Pedroso, 34 - Vila Velha 2710-550 Sintra
Telefone: 219238828
3.ª a 6.ª feira: 9.30-12.00h e 14.00-18.00h
Sábados, Domingos e feriados: 14.00-18.00h
Encerrado à 2.ª feira e nos feriados de 1 de Janeiro, 3.ª feira de Carnaval, 20 de Abril, 1 de Maio e 25 de Dezembro.
Entrada: 1 Euro

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segunda-feira, 4 de junho de 2007

Convento de Santa Ana do Carmo de Colares - Nota introdutória do autor

A elaboração do trabalho de Seminário em História da Arte da Universidade Lusíada de Lisboa, sobre o Convento de Santa Ana do Carmo, em Colares, começou pela sede da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, sedeada no Forte de Sacavém. Com efeito, foi constatado que a informação aí encontrada, juntamente com a restante que paralelamente se foi recolhendo na Biblioteca Nacional e Arquivo Histórico de Sintra, levantava certas dúvidas em alguns pontos. Dúvidas que se acentuaram aquando da visita ao Convento. Algumas das salas encontradas não correspondiam às descrições feitas por autores anteriores, chegando por vezes a existir grandes contradições entre os mesmos. A própria abordagem histórica e descritiva realizada por alguns desses autores parecia algo confusa e dispersa. O trabalho procurou, de algum modo, acabar ou pelo menos tentar atenuar esses mesmos sintomas. Procurou ainda, e acima de tudo, realçar Sintra e a importante influência do seu património na Cultura portuguesa durante séculos.
O texto do poeta Bulhão Pato que se vai perfilando ao longo de todo o trabalho, e que vai narrando a eremítica estadia no Convento, em 1849, de três personagens ilustres da Cultura portuguesa, procurou servir de paralelismo entre Cultura e Património, numa tentativa de entender a importância deste último na valorização da primeira. Mas não só. Procurou também servir de ponte para tudo aquilo que o sagrado envolve, e que em plena simbiose com a natureza, leva o Homem a entregar-se ao recolhimento interior, à meditação. No fundo, ao encontro de si mesmo.

Texto: André Manique

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sábado, 2 de junho de 2007

Convento de Santa Ana do Carmo de Colares

"A Cruz Mutilada" de Bulhão Pato

“Em 1849, Alexandre Herculano tinha trinta e nove anos e umas pernas de aço. Havia-as exercitado pelas serras dentadas, escalões e fraguedos, como valente soldado de infantaria no heróico regimento de Voluntários da Rainha.
(…) O marquês de Sabugosa e eu tínhamos nossas fumaças de bons andadores. Ufanavamo-nos de, havendo saído de uma reunião em casa do marquês de Penalva, à Patriarcal, de chibatinha na mão – das que então se chamavam Polkas – irmos até ao palácio de São Lourenço, a Santo Amaro, e, resolvendo-nos subitamente, sem pregar olho, batermos connosco em Sintra!
Contámos, com certo orgulho, a aventura a Alexandre Herculano, quando na volta, que foi também a pé no dia seguinte, lhe caímos em casa sobre a ceia, impando de glória e mortos de fome.
(…) Combinou-se uma ida a pé a Sintra, para ficarmos uma semana na serra, no convento do Carmo, que pertencia ao conde de Lavradio cunhado do marquês de Sabugosa.
(…) Era no fim de Setembro. Levantámo-nos ainda muito de noite. De saco a tiracolo, com leve bagagem, e sapato de salto raso – sapato de campino, que é o melhor -, cada um pegou no seu cajado e partimos serra de Monsanto acima, cortando para Queluz, onde devíamos almoçar.
Dos altos da serra via-se já o sol a romper, atirando horizontalmente as frechas rubras sobre o escudo brunido e esverdeado do Tejo.
(…) Até Queluz o caminho era bravo – tudo serra. Não havia estrada. Herculano seguia a passo cadenciado e militar; o corpo curvado e pendido um pouco sobre o lado direito. Pelo caminho ia-nos contando os passos do seu tempo de soldado; os dias mais felizes da sua vida, e também os da emigração, com terem tido muitas horas amargas.
(…) Terminado o almoço em Queluz, seguimos, estrada fora, até Sintra. Em Sintra comemos alguma fruta e partimos, serra acima, até ao convento do Carmo.
O mestre ia ovante! Nós não queríamos dar parte de fracos, mas suspirávamos intimamente pelo termo da viagem! (…)
(…) Pouco depois da chegada ao convento, fumegava sobre a toalha de linho, muito branca, uma grande terrina de canja. Devorámos a ceia, quase sem dar palavra e em seguida caímos na cama com o profundo sono do justo. Herculano levantou-se às sete. Cerca das onze, veio acordar-nos, e repetia-nos a seguinte cantilena:


Quatro horas dorme o santo.
Cinco o que não é tanto.
Seis o estudante.
Sete o viandante.
Oito o porco.
E nove o morto!

Nós tínhamos dormido doze!

(...) A quem estiver na vazante da vida, como eu, e tenha visto alguma coisa, aconselho que faça os seus apontamentos.
Neste relembrar do que foi, há um consolo que não se define!
Vivemos retrospectivamente. Estas memórias, que não terão valor para os outros, são preciosas para mim! Respiro horas inteiras no horizonte da mocidade, e a consciência com que escrevo desafoga-me o espírito, e dá-me uma tranquilidade salutar.
São como a confissão para o verdadeiro religioso! Confissão geral; e, di-lo-ei – embora seja censurado – posso fazê-la alto, sem que as faces se me acendam nem de leve. Pecadilhos, fraquezas, arrebatamentos próprios do temperamento, não me faltam decerto; mas criminoso não sou, nem fui.
Todo o homem que disser com verdade: “Eu nunca roubei nem dinheiro, nem honra – há mais ladrões desta espécie de moeda, e são os piores! – eu nunca caluniei ninguém, esse homem morre em paz!
(…) A pouca distância do convento do Carmo, naquela agreste e encantadora posição da nossa Sintra, a que o próprio Lord Byron, inimigo figadal dos portugueses, chama “a mais bela da Europa”, estava a cruz que impressionou Herculano.
Tinha um braço partido, e a hera, a mãe solícita das ruínas, deitara-lhe em volta os ramos verdejantes e cariciosos.
A poesia foi começada no convento do Carmo.
Abre com estes magníficos versos:

Amo-te, ó cruz, no vértice firmada
De esplêndidas igrejas;
Amo-te quando, à noite, sobre a campa,
Junto ao cipreste alvejas;
Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos,
As preces te rodeiam;
Amo-te, quando em préstito festivo
As multidões te hasteiam;
Amo-te, erguida no cruzeiro antigo,
No adro do presbitério,
Ou quando o morto, impressa no ataúde,
Guias ao cemitério!
Amo-te, ó cruz, até, quando no vale
Negrejas triste e só,
Núncia do crime, a que deveu a terra
Do assassinado o pó!

Alexandre Herculano, censurado de ímpio e herege espécie de papão com que em certa sociedade se chegou a meter medo às crianças e até às mulheres já feitas –, era uma alma profundamente religiosa. É correr os seus livros.
Há um sabor, um perfume do misticismo santo de Jesus, em centos de versos e em relanços da sua prosa escultural.
Nesta composição da ‘Cruz Mutilada’, escrita em dias prósperos, sob o céu do nosso Outono, na convivência de dois amigos íntimos, está o coração grande e virtuoso de Alexandre Herculano. Inspiravam-no a natureza e Deus!
Aos que o acusavam de blasfemo respondia com estes versos:

……………As linhas puras
De teu perfil, falhadas, tortuosas,
Ó mutilada cruz, falam de um crime
Sacrílego, brutal, e ao ímpio inútil!"

Bulhão Pato, 1883
Os intervenientes:


Em cima: Bulhão Pato (à esquerda); Alexandre Herculano (à direita)
Em Baixo: Marquês de Sabugosa (à esquerda); Conde de Lavradio (à direita)
(Fotos: BN, IPPAR, Genea)

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sexta-feira, 1 de junho de 2007

Efemérides de hoje!

Para além de se comemorar o Dia Mundial da Criança e o início da época balnear, hoje também é dia de outras efemérides!

No dia 1 de Junho de 1890, há precisamente 117 anos, morreu o escritor Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco.
Camilo Castelo Branco sofria de uma crescente cegueira, causada pela sífilis, e já praticamente não conseguia trabalhar. O desespero levou-o ao suicídio!

Também no dia 1 de Junho de 1948, faleceu o pianista e compositor José Viana da Motta, músico protegido e apoiado na sua arte pelo casal D. Fernando II e Condessa d’Edla. Viana da Motta viveu muitos anos em Colares e, na casa onde morou, encontra-se uma lápide alusiva à sua passagem por Sintra. José Viana da Motta foi reconhecido internacionalmente como um dos grandes pianistas do seu tempo e foi discípulo de Liszt.

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