terça-feira, 15 de março de 2005

Camilo nasceu há 180 anos!

“Era já pleno estio. Os galans mais hardidos de Lisboa estanceavam por Sitiaes, por Pisões, e por aquellas varzeas de Collares, a engarrafar lyrismo para gastarem por salas nas noites de inverno.”
Camilo Castelo Branco, In “A Queda de Um Anjo”, (1866)

Camilo Castelo Branco

Passam hoje 180 anos sobre o nascimento de Camilo Castelo Branco. Um dos enormes vultos da literatura portuguesa. Mais um dos escritores que se renderam às maravilhosas paisagens e ao ambiente fantástico da Vila de Sintra e arredores.
Amava Sintra (como se fosse possível o contrário) e visitou-a por diversas vezes.
Tal como outros célebres escritores do século XIX, entre os quais Eça de Queiroz, Lord Byron, Alexandre Herculano e William Beckford, costumava ficar alojado no Lawrence’s Hotel – o mais antigo da Península Ibérica - situado na Vila de Sintra e onde, ainda hoje, muitos dos quartos e suites evocam os nomes destes ilustres hospedes.

Lawrence's Hotel

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa a 16 de Março de 1825, na freguesia dos Mártires, num prédio da Rua da Rosa, actualmente com os nºs 5 a 13. Filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco (oriundo de uma família nobre) e de Jacinta Rosa do Espírito Santo Ferreira (filha de modestos pescadores de Sesimbra), foi baptizado na Igreja dos Mártires a 14 de Abril de 1825. Os seus padrinhos foram o Dr. José Camilo Ferreira Botelho, de Vila Real, e Nossa Senhora da Conceição.
Camilo e a sua irmã Carolina foram registados como filhos de mãe incógnita, pelo que se diz, porque o seu pai e a sua avó não queriam que o nome Castelo Branco estivesse envolvido com alguém de tão humilde condição.
Sua mãe faleceu muito cedo, quando Camilo ainda não tinha completado dois anos de idade. A morte do pai, quando tinha 10 anos de idade, obriga-o assim a ir viver para Trás-os-Montes, para casa da Tia Rita. Como era uma criança sensível e muito inteligente, Camilo vai sofrer grandes perturbações com todos os acontecimentos da sua infância.
Ao longo da sua existência revelou-se um falhado nos estudos e nos amores.
Camilo frequentou Medicina, Anatomia e Fisiologia, Química, Botânica, nunca terminando qualquer deles. Entre 1851 e 1852 ainda tentou abraçar o sacerdócio, mas acabou por desistir mais uma vez.
As vicissitudes da vida fazem-lhe despoletar a ideia de que a fatalidade e a desgraça são destinos a que não pode escapar. Foi um profissional das letras multifacetado, cuja obra o posicionou como uma das figuras mais eminentes da literatura portuguesa.
Teve quatro filhos, uma de Joaquina Pereira de França e três do seu “amor de perdição” Ana Plácido.
Suicidou-se a 1 de Junho de 1890, na freguesia de Ceide, em Vila Nova de Famalicão. A orfandade aos poucos anos de vida, os falhanços na área amorosa, a ganância dos familiares, as vidas frustradas dos filhos e, sobretudo, a cegueira impiedosa e cruel que o retirou do mundo das letras e do palco da vida, foram os grandes impulsionadores desta catastrófica decisão.
Para a história ficam obras como “Amor de Perdição” (1862), “Memórias do Cárcere” – 2 vol. (1862), “A Queda de Um Anjo” (1866), “O Retrato de Ricardina” (1868), “A Filha do Regicida” (1875) e “Vulcões de Lama” (1886), entre muitos outros.

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