quarta-feira, 22 de setembro de 2004

"A Estranha Aventura de Sintra" III

Estivemos em Sintra há pouco, por uma tarde calma, uma tarde de silêncio e de frescura. Visitámos as belas salas do Paço, onde viveram os reis de Portugal, percorremos as ruelas estreitas e íngremes, as escadarias tortuosas serra acima, emolduradas de céu e de montanha, descemos ao vale onde os riachos frios alimentam canaviais ondulantes, e onde as mulheres lavam a roupa rindo e cantando, passeámos nos caminhos poéticos, profundos de sombra e verdura das pequenas quintas cercadas de muros altos, cobertos de trepadeiras, fomos a Monserrate, onde a colina é verde e a água é escura como um mistério, funda como a própria existência, admirámos a beleza cuidada do Parque de Pena, e estivemos também no palácio, donde a vista da terra não tem fim, e a vista do céu parece ter limites, passamos por todos os pontos consagrados de Sintra, os Capuchos, Seteais, a Fonte dos Passarinhos... O trabalho do homem, em Sintra, não briga com o trabalho da natureza, antes o auxilia e disso nos devemos orgulhar, nós, portugueses. Que naquele ponto da terra, o homem tenha recuado, tenha hesitado, indica um respeito, uma admiração, que não fazem parte da sua índole. O homem apaga-se, ocupa voluntariamente ali, a posição de segundo plano. Porquê? Que poder sobrenatural se desprende das faldas luxuriantes da serra? Sintra é a terra das interrogações, das surpresas. (Cont.)

António Quadros, in Panorama

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